eu tenho um pânico, quase fobia, de fungos. não tem qualquer justificativa plausível, eu só não suporto ver essa coisa que me dá um arrepio no corpo inteiro. eu tenho pânico também porque sei que é uma coisa que não temos real compreensão do que é, sabemos o básico, mas não sabemos o seu potencial, pelo lado negativo ou positivo.
ele pode dar infecções gravíssimas, também transformar formigas em zumbis. talvez sejamos o próximo estágio desta coisa diabólica chamada fungo.
ontem li uma notícia de que está aumentando o número de infecções mortais por fungos, uma consequência, das milhões não previstas, da COVID-19. eu não vi e nem joguei The Last of Us, mas você deve saber que o plot do apocalipse envolve uma infecção por fungos que transforma as pessoas em zumbis. um ponto para a distopia.
não sei se foi surpresa para alguém, mas o laranja lá ganhou as eleições. eu sei que tentam pintar a esquerda como o verdadeiro governo opressor, afinal, galera tem dificuldade com a interpretação de texto e dificuldade de contexto, pegaram a ideia da “ditadura do proletariado” e ficaram falando que ESSES COMUNISTAS SÃO DITADORES. mas, surprise surprise, quem realmente quer uma ditadura são os fascistas que estão voltando ao poder.
1984 é um livro clássico de distopia do mainstream. por mais que o Orwell tenha uma origem comunista, sua obra é basicamente uma propaganda anticomunista. e eu adoro quem lê o livro e realmente compra essa ideia, sem conseguir enxergar as nuances da própria realidade.
seria sob um regime comunista que viveríamos todos iguais, no pior sentido da palavra, seria sob um regime comunista que seriamos vigiados pelo grande irmão, que não poderíamos ter opiniões diversas, seríamos tristes, com trabalhos entediantes e sem qualquer vida social fora do nosso ofício. isso tudo te lembra alguma coisa?
acredito que foi meu namorado que disse isso, ou eu que vi em algum lugar e comentei em meio a alguma conversa sobre o tema, mas o lance é que o capitalismo coloca na conta do comunismo tudo o que ele de fato é.
por mais que possamos nos sentir diferentes uns dos outros, o comportamento online é igual. todos vivem como se fossem pequenos influenciadores digitais do seu próprio mundo. todos querem viver experiências que podem gerar conteúdo, tudo vira conteúdo. cada pedacinho da sua vida é passível de estar em uma rede social. você se veste igual a todo mundo, você pensa igual a todo mundo, você faz a mesma coisa que tudo mundo faz.
hoje, o quanto a vida offline e online se separam? lembro de alguns textos que li, bem no começo da era digital, sobre uma separação da vida dentro e fora da tela. ainda era possível isto, afinal, não tínhamos uma infinidade de dispositivos, com acesso à internet, que poderíamos levar para todo lado. também não tínhamos a potencialidade de um algoritmo que identifica todo seu comportamento online e cria uma ambiente perfeitinho para você.
se não há mais uma separação, também fica difícil falar o que é vida privada e o que é vida pública. você pode fazer o esforço que for para falar que sabe colocar este limite, mas se você já postou foto chorando, lamento, tu passou a fronteira do privado faz tempo.
não vou nem entrar na dimensão do trabalho. e você também pode se enganar o quanto quiser falando que o ama, contudo, se sua vida se resume a sua função, tenho uma péssima notícia para você.
mais muitos pontos para a distopia.
sempre que eu ouço as músicas dos racionais, fico fascinada com a esperança que eles tinham no século XXI, um avanço da ciência, da consciência, do social, tudo poderia ser melhor. e talvez realmente existia essa expectativa, afinal, após anos de chumbo, finalmente uma democracia estava se desenvolvendo. a distopia ainda era um pesadelo fictício.
depois que muitas obras conseguiram prever um pouco desse caos do século XXI, eu tenho medo que a próxima obra que vai acertar tudo seja Neuromancer. clássico do cyberpunk, temos um mundo tomado pelo digital no qual um caos acontece por uma rebeldia de uma inteligência artificial.
se meu medo por fungos pode beirar o irracional, meu medo de tecnologia pode ter algum fundamento.
eu sei que toda a minha fala é pessimista, que parece que não vejo coisas boas para o futuro. mas não negue que é um pouco difícil ver algo de bom saindo do bueiro que o mundo está se tornando.
e no meio da minha onda pessimista, eu fico com esta questão: por que não posso imaginar um mundo utópico?
sempre que trazemos o espectro da extrema-esquerda, a gente ouve, com desdém, sobre o quanto essa ideia diferente de mundo soa utópica. irreal. talvez seja, mas é melhor isto do que viver acreditando que um mundo sem capitalismo não existe. o lance de estar à esquerda das ideias políticas é que, apesar de todo pessimismo, a gente acredita em um mundo melhor, mais justo e mais igual. um mundo em que não precisamos nos matar de trabalhar, um mundo em que vivemos em harmonia com a natureza, um mundo coletivo.
de novo, não sei se foi meu namorado, minha antiga terapeuta, ou os dois, mas me foi questionado: o que eu tenho de exemplo desse mundo que eu julgo ser melhor? de bate e pronto digo: é só olhar qualquer comunidade indígena e você vai ver uma possibilidade de mundo sem o capitalismo.
eu entendo a dificuldade da mudança de perspectiva. ainda mais quando vivemos em um mundo individual, no qual ninguém quer uma mudança justo na sua vez de ter algo. mas as únicas coisas impossíveis são as quebras das leis naturais, fora isto, tudo que é social pode ser possível.
eu quero e seguirei sonhando em um mundo sem o capitalismo, sem o liberalismo, sem o imperialismo e sem o colonialismo. eu quero e sonho em um mundo sem opressões, quero e sonho com um coletivo e em paz com a natureza.
apesar de todo o pessimismo, eu não deixo de sonhar com um mundo bom.
Hoje teremos muitas dicas de news, porque tenho conseguido ler mais as coisas por aqui. ENTÃO BORA LÁ:
Contextos em colapso, da Bia Montenegro, afinal, não é só interpretação de texto que falta na galera;
O horror da superexposição, da Vanessa Guedes, gente postem menos sobre suas vidas, por favor;
Preservar a paz, mas a que custo?, da Raisa Monteiro, é gatas, tem conversas difícil que a gente precisa ter, mas não precisa soltar o verbo sempre;
Off-line, da Lilian Silva, quero muito ficar off em dezembro e em janeiro também;
Quem vê storie não vê saúde mental, da Lígia Colares, afinal, ninguém sabe como tá a mente do palhaço;
Esposas tradicionais e troféu, da Angela Lemos, o horror de trabalhar tem levado umas mulheres a cometer loucuras;
Garotas triste e famintas, da Clarissa Wolff, e penso em escrever algo sobre a glamourização da mulher depressiva, todos acham elas lindas, mas na vida ninguém quer mulher deprê;
Quando eu tiver 80 anos, da Yaci, sobre nós, mulheres, que desejamos ser idosas.