do que eu sei de história e das minhas leituras de ciências sociais, existe uma conclusão que é possível ter: o cidadão que acredita que seus direitos estão garantidos, nunca verão uma ameaça fascista como séria.
a gente olha uns palhaços políticos e pensamos que nunca que chegariam ao poder, são patéticos, ridículos. contudo, dá um crise econômica e cultural, estas pessoas espalhafatosas, caóticas, saem do local do ridículo e começam a ser uma opção política.
lembra como foi 2018, o ápice do somatório das consequências de crise política e econômica, começadas nas tais manifestações de 2013. em um cenário político normal, o salnorabo nunca seria eleito. mas deu no que deu.
anos de caos político, democracia em risco, tudo que tínhamos como um mundo dado, impossível de ser retirar, começou a ruir. sim, direitos podem ser retirados, sim uma ditadura pode surgir a qualquer momento.
democracia virou um valor a ser defendido com todas as forças. um pavor contra tudo que é extremo, independente se é para o espectro de direita, ou de esquerda, se é extremos vamos odiar.
democracia, esse sistema político em que as diferenças devem ser superadas por um bem maior, em que o diálogo deve reinar. temos que ouvir todos os lados.
TODOS.
beleza, a constituição garante o contraditório e a ampla defesa, então se você for acusado de algo, seu lado deve sim ser ouvido. beleza, temos liberdade de experssão, mas não se esqueça que falas de ódio são sim proibidas. contudo, você, na sua vida, PRECISA ouvir todos os lados? ainda mais quando o outro lado é fascista, coach picareta, trambiqueiro?
que política brasileira é um show de horror, isto não é novidade, mas não nego que os debates para prefeitura de são paulo estão superando um pouco. porém, o lance é que não precisava, porque é isto, a gente não é obrigado a ouvir o que um candidato, que basicamente age como se estivesse num grande tiktok, que tem um partido com uma representação pífia na câmara, tem a dizer.
não precisamos, mas como ficou essa coisa de defender valores democráticos a todo custo, a gente se obriga a dar palco para maluco pela simples ideia de diálogo. contudo, não vamos esquecer que diálogo demanda respeito entre ambas as partes e que ambas as partes apresentem argumentos que sejam coerentes, factíveis e verdadeiros.
não dá para ouvir um lado que diz que não tem plano de governo, quando estiver lá vai ver o que vai fazer, que acusa uma das candidatas de ter provocado o suicídio do próprio pai, que estimula a violência, seja dos outros candidatos e até de seus assessores.
não dá para ouvir um lado que diz que vai colocar uber na periferia, que acha que extintor de incêndio vai apagar o terrorismo ambiental que está sendo feito, que a culpa do pobre ser pobre é a falta de educação financeira.
os candidatos do partido sapatênis que falam que gestão pública é a mesma coisa que gestão de empresa, de uma casa. mas infelizmente esse lado temos que ouvir, porque eles possuem o mínimo de representação na câmara, então eles devem ser chamados para os debates.
assim, quando ouço alguém trazendo a ideia de debate e quando coloca do outro lado um maluco, um fascista fantasiado de liberal, eu não acho que o diálogo deva existir aí. e sendo sincera, eu transfiro esta ideia para tudo na minha vida.
eu não sou obrigada a ouvir alguém que tenha uma opinião contrária a minha caso ela seja pautada em valores liberais e conservadores. se uma pessoa que eu amo é machucado por alguém, eu não preciso ouvir o outro lado da história, não vou julgar a outra pessoa como má, é só que não tem motivo para querer saber como o outro lado está e suas motivações.
sim, incentivamos o diálogo, o debate, essas trocas são de fato importantes e muito boas, mas tudo tem limite. se você, para tudo e qualquer situação, chega e fala “precisamos ouvir o outro lado", lamento, para mim isto é ausência de critério, ausência de valores próprios e ausência de senso crítico.
ter este tipo de entendimento ajuda a não dar palco para maluco, a não normalizar visões fascista de mundo. não temos que perder a noção do absurdo por uma ideia delirante de democracia.
bora de alguns links?
Eu odeio whatsapp e este texto da Raisa mostra como uma coisa que poderia ser legal, no fim vira mais uma ansiedade no final do dia, whatsapp também precisa de limite;
Sobre se sentir empacada, da Michele Contel;
Nem sempre uma TPM é só uma TPM, ela pode ser algo além e ter um diagnótico pode ser bem complexo, texto importante escrito pela Desirée F;
Vídeo incrível do Normose explicando: por que amarelos são amarelos?.