quando eu fiz 30 anos, me perguntaram qual era a sensação, o que eu trazia de reflexão. não sei como que a idade dos 30 anos virou um número tão mágico, como se gerasse uma mudança completa de perspectiva.
um número mítico, falei do livro do balzac para o meu namorado, a mulher que viveu para os outros, mas quando fez 30, libertou-se. mas isto foi lá no século XIX, hoje, os trintas são quase uma condenação de morte. o quanto somos apegados à juventude? muito.
porém, quando me perguntaram dos 30, só consegui falar que era meu sonho. eu nunca gostei da juventude, para mim ela é uma prisão. a pressão social pela beleza, em casar, ter filhos, carreira de sucesso, fazer a vida antes desta idade. mas não só por isso, sem perceber, introjetamos o discurso incel de que a mulher só tem seu valor até os 30. depois disso, deixamos de existir.
depois desta idade, viramos um grande nada.
quando estava na faculdade de antropologia, eu não lembro em que matéria, mas li um texto muito interessante sobre o papel da mulher pós-menopausa. em alguma comunidade nativa, esta nova fase da vida da mulher a colocava em uma posição de poder. ela virava conselheira, ou assumia o comando da comunidade. ela não era excluída da sociedade, mas assumia um novo papel.
mais pontos que me fazem pensar sobre o quão bom é envelhecer. não depender da juventude para sentir que tenho valor, para sentir que posso fazer as coisas. viver experiências não tem idade, apenas o timing da vontade.
um livro menos famoso sobre amor da bell hooks, “comunhão: a busca feminina por amor" (tradução livre minha), ela foca muito na troca de afeto entre mulheres, afetos que não são necessariamente românticos. em dado momento, ela fala sobre as conversas que tem com mulheres mais velhas, todas relatam a sensação de liberdade que o passar dos anos traz.
não ser jovem é uma das coisas mais libertadoras que uma mulher pode ser. ela deixa de existir para os outros e pode existir para si mesma. ela deixa de ser feita de trouxa e percebe a malandragem dos outros, envelhecer é ter maturidade de viver a vida que deseja.
e, ainda que eu esteja jovem na faixa dos 30 +, adoraria falar umas coisas para mulheres mais novas, que sei que seriam ignoradas, porque tem perrengues que aprendemos somente quando sentimos na pele. mas o que eu poderia falar é que não acredite naquele cara mais velho que diz que você é madura para sua idade, não fique desconfortável para os outros ficarem confortáveis, revide, mesmo que intuição seja algo questionável, acredite naquela voz que diz que algo vai dar merda, geralmente ela está certa. arrisque-se nas experiências, aprenda a ser sozinha, o conhecimento vai te livrar de muita cilada. não caia em papo de tradwife. não tenha medo de sair de situações que te afetam. descanse, descansar é o ato mais revolucionário que fará para você mesma. sonhe alto, tenha ambições e prove para todos que eles estavam errados.
enfim, talvez poderia falar mais coisa, mas ainda tenho muito que aprender nesta vida. mas bom demais ser 30+.
Ano novo vida nova! Torcendo para que 2025 seja menos pesado, porque, 2026, o bicho vai pegar politicamente. Vamos juntar força para o caos. kkkk Bom 2025 para todes.