eu juro que o título não é clickbait! ou talvez seja…
não vou mentir, minha fantasia de vida sempre se baseou em sumir para alguma cidade longe de campinas, esquecer tudo que eu conhecia até então e começar uma vida nova, diferente, em algum lugar mais quieto, com mais verde, menos carro, menos gente.
a fantasia segue a mesma, a única diferença é que inclui uma pessoa a mais do que antes. e outro detalhe, o desejo imenso de virar um fantasma virtual. eu tentei pesquisar para ver se encontrava a matéria, mas não consegui pensar nas palavras corretas para achar. contudo, a história era sobre um gringo que fez todo um processo de deletar suas informações, seus dados, e desapareceu. até hoje não sabem o que aconteceu com ele, porém, de uma certa forma, ele virou um fantasma.
que sonho, meus amores, que sonho.
até isto acontecer, tem um longo caminho e parte disso envolve um terror meu que é existir virtualmente. odeio rede social, informação importante para vocẽ que chegou aqui faz pouco tempo.
e odeio particularmente o instagram, que por mais que rende reels engraçados e ótimos para você entrar no vazio mental, ainda sim, a rede como um todo é um grande chorume. mais tóxica que o twitter, ao meu ver.
eu não preciso ver trocentas imagens editadas de corpos perfeitos para odiar meu corpo, já faço isso natualmente, ou de peles perfeitas, de pessoas vivendo vidas que parecem ser infintamente mais interessantes que a minha. e é uma coisa bem maluca da mente humana. uma fala comum que tenho na terapia é: racionalmente eu entendo completamente a situação, mas emocionalmente não faz sentido.
eu entendo que as situações que instagram me jogam são montadas, não só dos influencers, mas também de amigues que postam as coisas como se fossem influencers. sei que cada um está lidando com sua batalha pessoal, a maioria sofre ou de ansiedade, ou de depressão, ou os dois, ou alguma quarta coisa misteriosa, porém, ninguém está genuinamente feliz. aquele corpo perfeito é edição de imagem, a foto sorrindo esconde a dor na alma e a viagem babadeira está parcelada em 500 vezes. eu sei, mas o ego é uma parada louca e no fundo fico com a sensação de que não estou vivendo a vida, seja do jeito caótico YOLO que vejo por aí, seja do jeito #mópaz, que é meu objetivo.
já que não posso deletar as redes, minha ideia é sempre tentar substituir para algo que soe menos nocivo, o que me restou o pinterest. que pode não ser dado como rede social, mas como permite interação de pessoas, coloco como tal.
tudo muito bom, tudo muito bem, até que começou a vir um mal-estar, uma sensação de que a minha vida era merda… a transição não foi tão boa quanto eu esperava.
eu sempre tento moldar meu algoritmo para não me mostrar coisas problemáticas, sempre apareceu muitas publicações sobre emagrecimento, tirei tudo isso. mas isso foi o sufiente? NÃO, porque mesmo vendo roupas bonitas, são roupas bonitas em corpos extremamente magros.
contudo, isto não é o pior para mim, porque acaba caindo naquela coisa de que: é tudo montagem, é fake, não preciso me preocupar. o que me pega real são as paisagens belíssimas, os cenários lindos de cafés franceses, ruelas italianas, praias gregas, tudo que é uma materialização da minha vida dos sonhos.
viver em paz em uma cidade bonita na qual eu possa andar tranquila, que o ritmo seja lento, que tudo seja para amanhã e não para ontem. isso não é fake, não é montagem, é perfeitamente possível, mas somente se você tiver muito dinheiro.
outra coisa são as decorações lindíssimas. uma casa confortável, aconchegante, com um quintal maravilhoso, ou uma varanda gostosa… tudo claramente bancado através de muito dinheiro.
maldito dinheiro, não é como se fosse algo falso, intangível. não é como se eu pudesse me reconfortar racionalmente para falar que tudo bem, aquilo não existe, por mais belo que pareça. com dinheiro eu posso morar fora, com dinheiro eu posso ir para muitos lugares, ter um canto onde e como eu quiser, quase tudo é possível.
então, vira uma crise diferente, ao invés de ser puramente de ego por me sentir feia, para um ódio de não ter vindo de família rica, para já começar a vida profissional com grana o suficiente para fazer render e poder bancar estes luxos. e talvez eu nunca tenha dinheiro para isto, porque, convenhamos, a ruína capitalista está deixando tudo cada vez mais caro.
para os cronicamente online, uns anos atrás, o símbolo de riqueza era um pai comprando vários potes de sorvete caro para filha, agora é comprar massa de pastel e queijo. mesmo sem sair de casa você pode acabar gastando dinheiro, tudo custa muito e a gente ganha cada vez menos.
percebi que este mal-estar me gerou a crise de querer arrumar minha casa quase metodicamente, mudar os móveis, comprar decorações desnecessárias, de ter uma rotina maluca de acordar cedo e dormir tarde, flanar por aí, como se minha cidade fosse segura para isso, gastar rios de dinheiros em cafés bonitos superfaturados e ruins, tudo pela aesthetic. não só eu seria feia, mas a minha vida também não é bonita o suficente para postar no pinterest.
nada é bonito o suficiente! no fim, não adiantou muito tentar trocar as redes, tudo vai ser uma grande crise, porque o ego quer sempre se sentir superior de alguma forma.
e se não bastasse isto, agora vem o vício no canal do youtube de um cara do Azerbaijão que faz tudo caseiro, tudo de forma rústica, sério, dá vontade de largar tudo e ir morar numa vilazinha do Azerbaijão.
AVISO: a rotina por aqui anda meio maluca e para a próxima cartinha quero tempo para fazer ela minimamente estruturada, principalmente porque eu quero que ela seja longa. então, sem cartinha para as próximas duas ou três semanas.
eu evito as redes sociais. mantenho contato com os amigos apenas pelo whatsapp. só sei da vida deles o que eles quiserem me contar de verdade, e não posts para atrair likes. tem sido uma experiência muito boa não estar tão à mercê dos algoritmos.
Definiu bem o instagrao, chorume tóxico. Ruim para consome e ruim para quem tá perto. É tipo fumante passivo, vem uns barulho, umas musiquinhas irritantes num loop eterno...o inferno deve ser isso, vc sem celular no meio de usuários de tik tok e instagram com volume no máximo e sem fones de ouvido. Olha eu falando abobrinha na newsletter dos outros kkkk