agora eu posso falar que me sinto oficialmente no mundo dos concurseiros. sim, eu prestei o CNU, o tal do ENEM DOS CONCURSOS. a prova que durou um dia inteiro e teve um caos que furou a bolha, porque afinal, quantas vezes você ouviu alguma notícia de concurso, não sendo um concurseiro?
então, foi loucura.
não quero nem falar do fato que a prova durou o dia todo, que as questões cobradas realmente surpreenderam, o tema de redação foi loucura (mas muito interessante)… eu não tenho que falar disso com você. vamos para o caos.
a prova tinha algumas instruções básicas: assinar seu nome na capa do caderno de perguntas, na folha de resposta, no cartão de gabarito (aqueles que dá para levar para casa), transcrever a frase de segurança e marcar o gabarito da sua prova, tinham 3 diferentes.
básico, né? mas, tu viu o burburinho rolando sobre quem não fez isso e está se recusando a ser desclassificado? acho que a esta altura do campeonato, com banca e tudo mais se posicionando que sim, serão desclassificado, as coisas já se arrefeceram. contudo eu fico fascinada que muita gente pode ter jogado uma chance no lixo por simplesmente não ler uma instrução básica.
bom, vamos deixar os ansiosos de lado, porque com ou sem instruções básicas, as pessoas já não iriam conseguir muita coisa. eu realmente quero focar na galera que simplesmente não leu as instruções, porque elas são uma demonstração de algo que eu reclamo desde o momento que eu trabalhava com marketing: as pessoas não leem e não seguem instruções básicas.
meu trabalho dentro do marketing era basicamente com copywriting, que consiste em escrever textos com objetivos específicos. assim, eu escrevia pensando em fazer a pessoa comentar no post, dar like, comprar algo, entrar em contato, qualquer coisa que estivesse associado com o foco do cliente. dentro disto, existe algo que se chama CTA, ou CA, que são comando claros de ações. se eu falo DEIXE SEU LIKE, esse é um comando que indica o que eu quero que você faça. então já deixa seu like no texto ;)
brincadeira.
CTAs simples de like, comentário, compartilhar, em geral, são bem ignorados e tudo bem, porém, o que mais me descabelava era quando a coisa indicava uma ação um teco mais complexa. por exemplo, estou fazendo um post sobre um produto que, para saber o preço, é necessário orçamento, então eu falava “entre em contato e peça seu orçamento". quantas pessoas faziam isso? QUASE NENHUMA, eram majoritariamente comentários perguntando o preço, então tinha que responder: o preço só é possível mediante orçamento, entre em contato.
eu deixei bem claro o que a pessoa precisava fazer e ainda sim ela não fez. e saiba que dá para piorar…
talvez você quisesse direcionar a pessoa para o site, ou sei lá, algo que está sendo dito no post em si terá mais detalhes no link do blog. então, claro que você não vai colocar o link na legenda porque ali não tem recurso de algo clicável, assim, você finaliza o post falando: “para mais detalhes, entre no blog pelo link da bio". algo assim. as pessoas iam no link da bio? não, elas pediam para que você mandasse o link para elas… o nível de preguiça era tão absurdo que a pessoa não fazia o básico de ir ela mesma pegar o link.
até hoje gostaria de algum estudo que desse as respostas, mas acho que ainda é cedo para isto, não sei o quanto este comportamento, a dificuldade de ler e seguir instruções básicas, é tão perceptível. contudo, claro que tenho meus palpites e claro que parte deles vai culpar a internet.
digo parte deles porque acho que é algo anterior à massificação desta tecnologia.
estes dias vi um comentário que era tipo “você não cresceu tendo que procurar as coisas em uma enciclopédia and it shows". ou seja, é evidente que você não teve o hábito de procurar as coisas e espera que elas sejam dadas mastigadas. eu não cresci com enciclopédias, mas ainda sim, pelo meu excesso de curiosidade, consegui desenvolver o gosto pelas pesquisas profundas. sabe quando você entra em buracos de coelhos, minhocas, hiperfocos, ou sei lá, mas você começa a pesquisar e vai fundo no assunto, indo de um link para outro até ficar entediado com o conhecimento aleatório?
eu já tinha este costume desde a escola, piorou na faculdade e no trabalho. então, para mim é meio que natural você ir atrás das informações por conta própria, sou da época dos blog com seus reviews infinitos, tutoriais escritos, enfim, uma gama de textos explicando coisas. para saber o que você deseja, você precisa parar um tempo e ler o que está escrito, depois você aplica o que conheceu.
para minha surpresa, as pessoas não se portavam desta forma. o cérebro é preguiçoso, ele opera na lógica do mínimo esforço, assim, as pessoas sempre procuram o que é o menor caminho e as informações mais mastigadas possíveis. um absurdo eu acho, porque não tem nada mais legal do que entrar em buracos de coelhos e ter o conhecimento grande sobre um assunto completamente aleatório.
enfim.
a preguiça, ela é a amiga número um do cérebro. quanto menos você precisar fazer para obter uma informação, melhor. e o que combina com a preguiça? a internet e seu mar de conteúdos de 15 segundos, ou as inteligências artificiais que respondem tudo em 1 segundo.
e quero deixar claro, apesar do meu ódio com tecnologia, eu sei bem que o problema não é ela em si, mas como as pessoas fazem uso dela. como o cérebro gosta da preguiça, se a pessoa já vem de um contexto que não gastava muito tempo procurando algo, tentando entender algo, claramente ela vai usar os recursos para sempre pensar o mínimo possível, fazer o mínimo possível.
criando todo este costume de fazer tudo prezando pelo mínimo esforço, quando algo precisa da sua atenção por mais de 15 segundos, ou que você precise fazer pesquisas mais profundas para saber de algo, o cérebro cansa muito rápido e você deixa passar muita coisa. no caso, não lê uma página de instrução, perdendo uma possível vaga em um concurso público.
e não acho que seja um problema geracional, não são só os jovens que vivem sob essa lógica, pessoas mais velhas também, aliás, meio que qualquer faixa etária, afinal, a preguiça da mente está em todo mundo! por isso que acabado colocando a tecnologia como um agravante de algo que já acontecia antes.
mesmo que existisse a lei do mínimo esforço, ainda sim você não conseguia as coisas de forma tão rápida. agora, com tudo na palma da mão, com tanta coisa mastigada, por que você vai se dar ao trabalho de pesquisar e ler um texto que o contador coloca 15 minutos de leitura?
sei que também estamos sobrecarregados com tanta informação, às vezes fica até difícil entender o que é urgente ou não, o que é importante ou não. se já temos uma atenção baixa, o cérebro sendo consumido sem necessidade alguma piora nossa capacidade de concentração. então, somos jogados cada vez na passividade de consumo, vemos de tudo, mas nada de fato entra na mente, nada desperta um interesse genuíno e o nosso cérebro vai ficando cada vez mais liso que um peito de frango.
não pesquisei sobre os efeitos disto tudo no cérebro, mas posso imaginar. estes dias eu li muito por cima sobre os efeitos do burnout neste órgão, o que se tem até então é a redução do cortex pré-frontal, responsável justamente pela atenção e concentração, e o aumento amígdala cerebral, usada para ajudar o corpo a responder em situação de perigo. assim, se o burnout gera estes efeitos, então o nosso excesso de estímulo diário deve gerar algo semelhante, meio que aquela sensação de ter o cérebro corroído.
levando tudo isto em consideração, realmente seguir instruções básicas pode ser um desafio e tanto, quase uma missão impossível e talvez teremos que precisar reduzir todos estes estímulos para evitar que nossa mente seja corroída.
Termino esta cartinha apenas te falando: vá ouvir o novo álbum da Liniker.
e uma tentativa péssima de tirar a foto da última superlua:
se a pessoa não consegue prestar atenção no básico, não pode mesmo passar no concurso. rs
Tbm fiz a prova do CNU. E fiquei surpresa com a galera que fez a prova da manhã e simplesmente não apareceu na prova da tarde kkkkkkkkkk
Essa de não ler o básico, não saber a dinâmica de uma prova de concurso antes de fazê-la é de cair o cu da bunda.